sábado, 14 de maio de 2011

AS LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO MARANHENSE.



                              13 DE MAIO
Num canto de um Terreiro de Umbanda sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, apreciando o som e observando o bailado das coreiras do tambor de crioula, um solitário preto-velho entristeceu-se. De seus olhos molhados, tristes lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei porque observando, aquilo me comoveu dai resolvir perguntar:


           Por que choras meu Preto Velho? hoje é dia de festa,
                            13 de maio , dia da libertação.
                                       Por que a tristeza?



                            E ele serenamente respondeu:
- Meu filho, tá vendo essa gente toda ai? esse entra e sai, essa comilança, essa bebedeira? pois é, a comemoração é deles , eu e meus irmão não temos o que comemorar e sim lamentar pela tristeza, pela situação em que meus irmãos  se encontram nos dias de hoje em que comemoramos uma falsa abolição.
Quebraram as correntes de nossas pernas e de nossos braços e amarraram as correntes do preconceito, da discriminação em nossa alma, em nossos corações.



Nossas crianças vivem os maus tratos das autoridades que se dizem competentes.


Sem direito a moradia digna


Além de lhe tirar a dignidade, lhe tiram também a infância.


Obrigada ao trabalho escravo doméstico.


Nossos antepassados viajaram até aqui 
em meio a humilhação, fome, dor, doença e morte.


E sua recepção foi conhecer a obediência, o medo, a submissão
e severos castigos com o chicote e o tronco.


A pobreza e a miséria subjulgaram  nosso povo



Nossos reis e rainhas, principes e princesas não tiverão o
prazer de conhecer seus contos de fadas, tomaram-lhe suas coroas e seus tronos e colocaram mordaças e grilhões.



Mas mesmo assim mostramos que somos bravos e fortes



Tentaram nos calar por ser belos e joviais mas, pela graça divina
e por lembrança de nosso sofrimento, nossos ancestrais vivem até os dias de hoje em  nossas memórias, há quem diga que alguns transformaram-se em santos  ou viraram lendas do imáginário popular mas, sabemos que existimos de qualquer forma.




Tiraram as vestes de nossas mães, irmãs, mulheres e filhas,
para usarem e abusarem de seus corpos como mero objetos sem valor.




criticaram , perseguiram , aniquilaram  com nossas alegrias, nossas festas, nossas danças.




 
Deturparam nossas danças,marginalizaram nosso lazer como lutas de morte.




Nossa fé , nosso credo, nossa religião foi perseguida e continua até os dias de hoje, pagamos com a própria vida por acreditar em
algo superior, divino e puro que pudesse nos confortar em momentos de tristeza e dor.





Agridem nossos deuses, nossos orishás, nossa energia
 chamando-as de demônios, encostos, espiritos sem  luz,

Nos culpam e menosprezam por cultuar a  natureza.




Oferecemos o que existe de mais saboroso em nossa
culinária  para nosso orixás, fruto de nosso sacrificio e eles
denominam como ato de magia negra, feitiçaria.



Saboreiam e degustam nossa comida


Mas, esquecem que foram feitas e preparadas com os restos
que nos ofereceram  e que não tinham lugar em sua mesa.




                Até nosso irmãos que foram mártires tido   
como santos, muitas das vezes não tem muito crédito como os santos dos brancos.




                                      comemorar o quê?

                                       Festejar o quê?


                Que abolição é essa? que liberdade é essa?

                                 Por isso choro meu filho,
                      por isso não vejo e não tenho alegria.







                                         Márcio Arthur.
                                      13 de maio de 2011


                        



           
NOTA:
O texto "As Lágrimas de um Preto Velho Maranhense"  é uma adaptação de um texto original
de Umbanda "As sete lágrimas de um preto velho"
Fonte:http://centroespirita.vilabol.uol.com.br/lagrimas.htm

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