segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O CURADOR MANDUCA E A MÃE D'ÁGUA

Certa vez, fui em um ritual de cura (Pajelança) pois esse ritual sempre me atraiu e fascinou desde de minha infância, muitas das vezes dormir ao som de pandeiros, palmas ,tambores,matracas e chocalhar dos maracás,

Parelha (instrumentos) de Tambor de Crioula.
Utilizado em algumas casas em rituais de cura.


   pois próximo a minha casa, aqui no bairro do monte castelo
 morava uma senhora de nome Filomena, mais conhecida como Dona Filuca, curadeira afamada, fazia milagres com seus benzimentos, banhos e garrafadas e fazia também um belo festejo de 3 dias para Santo Expedito com ladainhas, bailes. tambor de crioula, procissão e muita comida e bebida.
Pandeiros

                                            
  Antes da  festa, ela realizava um ritual de Pajélança, um brinquedo de cura, como é chamado aqui no Maranhão.
Matracas.
Utilizadas em algumas casas como no Salão da saudosa Dona Filuca e
no Terreiro de Mãe Elzita , no Sacavém.
Esse instrumento foi introduzido no ritual pelo
Curador Barnabé Ou Biná Barbosa como era conhecido
No bairro de Fátima.


Minha mãe as vezes me colocava na cama para dormir e ia dá uma "espiadinha" na cura e quando voltava me encontrava deitado no chão ou então chorando assombrado com alguma coisa, chegava a ter febre alta.

                                         
 E sempre que eu tinha minhas crises de desmaios e  olhava "visagens", dentre elas a  famosa  Mãe D'água  era essa senhora que balançava o maracá e me benzia com o penacho de penas de arara e  com sua pãina ou espada (pedaço de tecido de seda geralmente vermelha).
Com isso cresci e esse ritual sempre me envolveu e fascinou muito, por isso sempre gostei de assistir.
  Certa vez conversando com o Mestre Antônio Luis Corre-Beirada, no término de uma Cura  pedir á ele que me contasse uma história sobre Mãe d’água, pois quando criança também tive contatos com esses seres mágicos que sempre mexeram comigo e essa história, irei relatar para vocês.

                                         

                Por isso senta que lá vem história..............

                       


                       O Curador e a Mãe D'água

Um curador (pajé) chamado “Manduca” um dia, pela tarde andando pela beira do rio próximo onde morava , avistou uma Mãe d’água, ela estava distraída de costas,tomando banho e ele foi bem devagar,de mansinho e pulou em cima dela e a agarrou pela guelra. (?)



(alguns antigos dizem que as mães d’água tem guelra)



Prendeu a mãe d’água e levou para sua casa, depois que fez isso, correu pelas redondezas o “acontecido” e todos queriam ver a tal da “Mãe d’água”.



O curador manduca a deixou trancada em seu quarto de segredo (um quarto particular que corresponderia á um “peji” nos cultos afro).



A mãe d’água não era como as pessoas imaginavam, metade mulher e metade peixe e sim uma mulher com aspectos normais (pelo menos na aparência), não comia e nem falava.




O curador (pajé) conversava com ela ,mandava andar pelos arredores da casa e nada ela falava ou fazia, apenas observava o curador e sua servente Dona Pupu ( talvez chamava-se Pulquéria ) todo curador tem uma servente ou assistente.
Ela bebia muita água e sempre ficava parada olhando para eles dois.

 
 
 
                                             A FUGA DA MÃE D'ÁGUA

                                                                  

Depois algum tempo a vizinhança não contendo a tamanha curiosidade começaram a fazer de tudo para olhar a mãe d'água mas,isso só poderia acontecer pela manhã bem cedo, talvez pelo fato do curador ainda encontrar-se dormindo.


Um dia Dona Pupu estava “tratando peixe” (limpando para cozinhar) e a mãe d’água saiu do quarto e se aproximou da cozinha e ficou observando Dona Pupu.


Quando aproveitou-se da distração da servente e avançou e pegou a guelra do peixe e colocou na boca e saiu correndo desesperada em direção ao rio e chegando ao rio,antes de se jogar dentro d’água ,bateu com a mão para a servente e sumiu ,até hoje........


 
Depois desse acontecimento a vida do curador Manduca não foi mais a mesma, e segundo o que disseram foi castigo da Mãe d’água.


                             Será que ele mereceu???  

 
 
                 VERDADE OU MERA CONSCIDÊNCIA?
 





No ritual de pajelança (cura), em alguns salões de curadores , quando chegam a linha das mães d'água, uma delas canta a seguinte doutrina:

 
"Dei um tropeço no caminho, feiticeiro jurou de me matar." (bis)


"Ah!! eu sou Mâe D'água, sou encantada , ah!!! eu moro no rolo do mar." (bis)
Foto: Pai Euclides Talabyan.
Paramentado para um Ritual de Pajélança
ou Brinquedo de Cura.

                             
                                              Doutrina II

 
                  "Mãe D'água preta do rio já vem" (bis)

  "Ah!!! ela vai entrar no couro , ah!! eu naum sei de quem" (bis)

                                           Doutrina III

"Ouvir assobiar, Mãe D'água macho tá chamando ela pro mato.

quem quiser crer, crer, quem não quiser, não crer."     (bis)




Seria esse mais um dos muitos mistérios desse mundo fascinante chamado de ENCANTARIA?

       É!!! e quem tiver coragem  que tente  desvendar esse mistério
mas, cuidado!!!!! elas são traiçoeiras!!!
        Palavra de quem já viu uma Mãe d'água.
        Acredite se quiser.
         Essa é a minha história e quem quiser que conte outra.

                       Ilha do Amor, 24 de outubro de 2011.
                                      Márcio Arthur.
       
           











NOTA:
Essa história me foi passada pelo encantado Antônio Luis Corre-Beirada em conversa comigo e outras pessoas após um ritual de pajélança.
Essa mesma história  encontra-se registrada na obra "MARANHÃO ENCANTADO pag. 51 de autoria da Professora e
pesquisadora Mundicarmo Ferreti.
 As imagens  são apenas ilustrativas.
Foto: Pai Euclides.

FONTE DE IMAGENS:
 Google.

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